Maioria das crianças em situação de rua mora com os pais, revela pesquisa

21-03-2011 16:13

 Do UOL Notícias

Em São Paulo

 

Pessoas do sexo masculino, na faixa entre 12 e 15 anos, que se declaram de cor parda ou morena e moram na casa de pais, parentes ou amigos e que trabalham nas ruas. É esse o perfil predominante de crianças e adolescentes em situação de rua segundo pesquisa nacional realizada pelo Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente) e pela Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente. Ao todo, 23.973 crianças e adolescentes foram entrevistados em 75 cidades brasileiras, entre as quais, capitais e municípios com mais de 300 mil habitantes.

Segundo o Conanda, o levantamento divulgado nesta quarta-feira (23), feito em parceria com o Idest (Instituto de Desenvolvimento Sustentável), deve servir de base ao aprimoramento de políticas públicas e à construção da Política Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente e do Plano Decenal, em fase de elaboração.

Entre o público pesquisado, 59,1% informou que dorme na casa da família (pais, parentes ou amigos, segundo os pesquisadores) e trabalha na rua; 23,2% disse que dorme em locais de rua (calçadas, viadutos, praças, rodoviárias, etc.); 2,9% dorme temporariamente em instituições de acolhimento e 14,8% circula entre esses espaços.

Na qualificação por gênero, a pesquisa apontou que 71,8% é do sexo masculino, 45,13% tem entre 12 e 15 anos e 49,2% se declarou de cor parda ou morena, enquanto 23,6% se disse da cor negra. Conforme os pesquisadores, a pobreza é um dos principais fatores que explicam a situação de rua de crianças e adolescentes no país.

Família

A maioria das crianças e dos adolescentes em situação de rua ouvidos na pesquisa dorme em residências com suas respectivas famílias. Até os que pernoitam nas ruas, 60,5%, mantêm vínculos familiares. Já 55,5% classificou como bom ou “muito bom” o relacionamento que mantêm com seus pais, enquanto 21,8% considerou este relacionamento ruim ou péssimo. Proporcionalmente, a relação com os pais é melhor no caso de meninos e meninas que moram com suas famílias, mas, mesmo entre aqueles que costumam dormir na rua, 22,4% consideraram bom ou muito bom o relacionamento com seus pais.

Ainda conforme a pesquisa, crianças e os adolescentes que dormem na casa de suas famílias apresentaram melhores condições de vida, alimentação, escolaridade e saúde. Para os pesquisadores, “isto demonstra a importância da convivência familiar e comunitária para a proteção de crianças e adolescentes e a necessidade de políticas públicas que apóiem as famílias em sua função de cuidado e proteção de seus filhos e filhas”.

ECA

Apesar de os avanços em quase 21 anos de ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) em direitos fundamentais como alimentação, saúde, educação e higiene pessoal, o Conanda aponta que vários deles não viraram realidade para o público entrevistado. Entre as principais razões alegadas aos que dormem na rua para explicar a saída de casa estão a violência doméstica (cerca de 70%): brigas verbais com pais e irmãos (32,2%); violência física (30,6%); violência e abuso sexual (8,8%).

Além disso, 13,8% disse não se alimentar todos os dias e, ainda que a maior parte do público entrevistado esteja em idade escolar, não estudam atualmente 38,9% daqueles entre 6 a 11 anos, e 59,4% dos que têm entre 12 e 17 anos. A pesquisa apontou ainda que mais de 65% das crianças e adolescentes exercem algum tipo de atividade remunerada --sobretudo a venda de produtos de pequeno valor, como balas, chocolates, frutas, refrigerantes, sorvetes (39,4%); o cuidado de automóveis, a lavagem de veículos ou limpeza de vidros dos carros em semáforos (19,7%); a separação no lixo de material reciclável (16,6%) e a atividade de engraxate (4,1%). Conforme o Conanda, os dados demonstram que as crianças e adolescentes em situação de rua, “na sua maioria, trabalham para sobreviver”.

Outros 29,5% dos entrevistados costumam pedir dinheiro ou alimentos para sobrevivência.

 

 

 

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